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SETEMBRO 77
I
Descias pela Niemeyer, em direção ao mar.
A tarde já era quase noite, mas um clarão vermelho ainda se via,
O chão ainda molhado, da chuva que já se fora,
E, lá no mar, já brilhavam as luzes dos pescadores,
Ás voltas com seus peixes, suas redes e seus barcos,
Melhor fariam imaginar sereias, amar e sonhar,
No vai e vem de todos os dias, da terra para o mar, dali ao horizonte,
Que, lá, no horizonte, se perdia o teu olhar,
E, lá, mais além do horizonte, viajava o teu pensar.
Máquina do tempo, fonte da juventude, teu sonhar, a mágica.
II
A noite se fechava, e aos poucos te transformavas,
Já não eras o mesmo, o brilho no teu olhar , de novo se fazia novo,
Estavas mais moço, sentias, outra vez, o inquieto da juventude...
Fora o tempo que voltara, ou fostes tu que voltastes no tempo?
Que importância tinha isso, se, de novo, o mundo se abria,
Para que dessa vez pudesses, com tuas mãos, fazer o que antes não fizestes,
Para que, dessa vez, pudesses, em teu coração, ter o que antes não tivestes.
Que a tarde já se tornara noite, e a noite já tinha uma forma e rosto:
Ela.
E aquela noite se confundia com tua vida e aquela noite se confundia com Ela
Ela, tua saudade de sempre, ela enlevo dos teus sonhos
Que, por Ela, revertestes o tempo, que por Ela refizestes aquela noite,
Para que pudesses, outra vez, lutar por Ela.
Para fazer tudo de novo. Tudo de novo, mas do jeito certo,
Que a única certeza daquela noite, haveria de ser a certeza de todas as certezas Dela.
III
Tomaste-a pelas mãos e levaste-a a mostrar-lhe coisas.
Ali em frente, todo aquele mar, ainda escuro pela noite,
Aos poucos se clareava, pela Lua que já nascia,
E nada haveria de ser mais belo que o encanto que por Ela se faria
Em todo e em cada luar, que, dali por diante se fizesse,
Para velar, naquela noite, e sempre, todos os sonhos que, um dia, se tornassem Dela.
A Lua , o céu e o mar. Por que não uma cerveja?
As cervejas iam e vinham, à volta, solta conversa,
E conversaram das coisas da vida, de coisas da vida Dela,
De queijos e vinhos, da média e do pão com manteiga,
De filmes e de teatro, praia, academia e trabalho,
De balé e melancolia. Do Galo e Maraca, nem tanto...
Dos Titãs e outros bichos, sertanejo, nem pensar,
E a conversa seguia e ia, mas algo havia por dizer,
Que naquele coração de mulher,
Entre dúvidas, encantos e recantos,
Um canto haverias de achar,
Onde, para sempre, e com muita força,
só pudessem morar você e você.
E já era hora de ir. Saístes a caminhar com Ela. A cada instante, a certeza:
Mulher mais bela não existia. Oh Deus!
Aqueles olhos de um azul distante.
Aquela fala e jeito, doçura desconcertante...
Aquele corpo malhado, desejos acachapantes....
E já era hora de ir.
Tinhas que voltar para casa e quiseste que tua casa, fosse a casa Dela também,
Tinhas que dormir e quiseste que tua cama, fosse a cama Dela também
Quiseste que o amor se fizesse e teu amor fosse o amor Dela também.....
IV
E já subias a Niemeyer, vindo da direção do mar,
Já era claro, o Sol brilhando forte, a verdade do dia a dia
Máquina do tempo reversa, a mágica desfeita,
Apenas teu querer, que atravessara a noite e o tempo.
Teria o amor se feito entre os dois?
Talvez apenas em ti, mas se fez assim tão forte,
Que essa saudade tua, tão infinita, tão saudade Dela
Será irremediavelmente tua, até que ela, por fim, também te queira Dela,
Ou será tua, até que esse mundo não mais te tenha,
Pois terás se juntado aos anjos para vê-la, amá-la e cuidá-la do Céu.
Wilson Melo da Silva Filho