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ECLIPSE
É noite. Do mar, nasce a Lua. Cheia. Imponente.
Apagando, com seu brilho, toda estrela, desavisada,
Que daquele imenso clarão se aproximasse.
Mas as trevas da Terra, aos poucos avançaram,
E o que era claro e límpido tornou-se embaçado,
Humilhando aquilo que era brilho e orgulho,
Num marrom-vermelho, eclipse de namorados,
Que se deram as mãos, para que não se perdesse,
No escuro do céu, o encantamento dos corações,
Cheios de vida, ainda, e que assim o seja sempre,
Que o brilho da vida, tantas vezes, se ofusca também.
E tantos encantamentos já se perderam no tempo do tempo.
Impiedoso.
E aquela Lua, marrom-escura, conformou-se como lápide,
Para tantos sentimentos que se foram, tantos corpos decompostos,
Que se refazem em nós, quando se forma a lembrança.
E o que não tem mais vida, toma a forma viva da saudade,
Do sorriso que se faz, da voz que não nos fala; e nossos olhos choram.
E ela me aparece. Tão real, tão presente e é como se fosse hoje.
Imagem solta e perdida. Como perdeu-se o prata do céu.
Mas essa imagem vive. E me visita. E me atormenta. E me incomoda.
Por que tivestes que ir, se, aqui, eu te queria tanto?
Que te fiz, que nosso elo se quebrou, como se quebra um braço,
Que te procura ainda, para um abraço que nunca se deu e nunca se acabou,
Mesmo que, agora e para sempre, eu te saiba do lado de lá?
Mas, aquela Lua, apagada, aos poucos redescobre o brilho,
Iluminando e desbotando essa cor de luto, que me esconde,
Que a vida segue e os sonhos nascem, como se fossem filhos.
E, dos filhos cuidamos, que, pequenos, esperam por nós,
Por nossas mãos, por nossos olhos, um dia por nossa lembrança,
Que haverá de ser como essa Lua, que, de novo, se acende no céu,
Ensinando que o claro e o escuro se misturam tantas vezes,
Mostrando um chão de luz, quando o cinza se fizer.
Para Fátima, in memoriam
Wilson Melo da Silva Filho