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FLORBELA ESPANCA
Os Versos Que Te Fiz
Deixe dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Tem dolencia de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz.
Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
1 - Biografia Sucinta
Fazer sonetos, não é uma tarefa simples. O soneto clássico é composto de versos decassílabos, com dois quartetos (quatro versos) e dois tercetos (três versos), em seqüência, com rimas que podem variar de posição. Um soneto é uma forma relativamente sintética, que, apesar disso, se bom, deve apresentar, completamente, um estado de alma ou uma mensagem. Não são muitos os que conseguem se expressar dessa maneira. A forma poética de Florbela Espanca, em sonetos, é a expressão de um gênio da poesia. Nos seus sonetos, Florbela, além da perfeição puramente técnica, consegue extravasar, completamente, tudo aquilo que lhe ia pelo coração, criando uma enorme identidade, entre a sua poesia e a sua alma. Lendo a poesia de Florbela, percebe-se, a mesma, algumas vezes um tanto amarga e cinzenta, outras vezes feita de desejos mal contidos. Pela sua poesia e pela sua própria vida, pode-se perguntar se, em lugar de ter vivido no Portugal do começo do século XX, tivesse Florbela vivido em tempos mais modernos, se o curso de sua vida não poderia ter sido um outro. Tem-se a impressão de que Florbela queria algo que o seu ambiente não lhe podia dar. Talvez procurasse algo que lhe estivesse, no tempo, um pouco além.
Durante sua vida, Florbela não teve um grande reconhecimento como poetisa . Tal reconhecimento só se deu devido às circunstâncias de sua morte, em 8 de dezembro de 1930, às vésperas da publicação de seu livro "Charneca em Flor". O fato de ter dado fim à sua vida, fez com que o público se interessasse pelo livro e pelo restante de sua obra.
Florbela d'Alma da Conceição Espanca nasceu em 8 de dezembro de 1894 em Vila Viçosa (Alentejo). Seu pai, João Maria Espanca era, na verdade, casado com outra mulher, que acabou sendo a madrinha de Florbela. O mesmo veio a acontecer com seu irmão Apeles, nascido em 10 de março de 1897, que Florbela veio a considerar como sua alma irmã e cuja morte, em 1927, abalou profundamente a poetisa, influindo, com certeza, no destino de Florbela. O primeiro poema de Florbela foi, ao que tudo indica,, A Vida e a Morte, em 1903. Em 1913, Florbela celebra o primeiro de seus três casamentos, em 1917 sofre um aborto e, em junho de 1919, por sua própria conta, publica o seu "Livro de Mágoas". Em seguida, em 1923, também por conta própria, publica o "Livro de Sóror Saudade". Antes disso, em 1921, é assinado o divórcio de Florbela que, dois meses depois, se casa pela segunda vez. Em 1925, após um novo aborto, divorcia-se novamente e, no mesmo ano, casa-se pela terceira vez. Em 1927, conforme mencionado, um acidente aéreo mata o irmão de Florbela, Apeles. Depois disso Florbela, com certeza, nunca mais foi a mesma. Assim sendo, após uma vida pessoalmente conturbada e emocionalmente, complicada, Florbela morre, no dia de seu aniversário, em 8 de dezembro de 1930, por suicídio, ou ingestão excessiva de remédios.
Para uma consulta ao acervo digital de Florbela Espanca, recomenda-se o site http://purl.pt/272/2/index.html
2 - Livros Publicados:
Livro de Mágoas. Lisboa, Tipografia Maurício, 1919.
Livro de Sóror Saudade. Lisboa, Tipografia A Americana, 1923.
Charneca em Flor. Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.
Charneca em Flor (com 28 sonetos inéditos). Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.
Cartas de Florbela Espanca (a Dona Júlia Alves e a Guido Battelli). Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.
As Máscaras do Destino. Porto, Editora Maranus, 1931.
Sonetos Completos (Livro de Mágoas, Livro de Sóror Saudade, Charneca em Flor, Reliquiae). Coimbra, Livraria Gonçalves, 1934.
Cartas de Florbela Espanca. Lisboa, Edição dos Autores, s/d, prefácio de Azinhal Abelho e José Emídio Amaro(1949).
Diário do último ano. Lisboa, Bertrand, 1981, prefácio de Natália Correia.
O Dominó Preto. Lisboa, Bertrand, 1982, prefácio de Y. K. Centeno.
Obras Completas de Florbela Espanca. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1985-1986, 08 vols., edição de Rui Guedes.
Trocando Olhares. Lisboa, Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1994; estudo introdutório, estabelecimento de textos e notas de Maria Lúcia Dal Farra.