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5 - Da Cidade



O medo do avião. E mudastes de cidade. E mudastes de vida. Fostes viver.

Fostes aprender a vida, que pouca vida tivestes, em tua mocidade e casa antiga;

Fostes encontrar a praia de cada dia, que, assim, não a tivestes antes. Uma barraca, uma cadeira, um jornal. O Sol, o mate e o limão!

A mesa. A cadeira. Os colegas de trabalho. As colegas de trabalho. O trabalho.

Uma usina nuclear. O ponto dispensado, o ponto por assinar. O aluguel, a proprietária, o financiamento, o carro.

Copacabana.

Os amigos. Mais as amigas. Os bares e as noites. Prado Júnior, inferninhos e adjacências.

Schopenhauer. Poema Veinte.

As horas? Só tuas. Vinagrete de uísque. Fumaça de cigarro. A solidão dos versos. As noites azuis!

Helena, Helena, Taiguara; Piano e Viola. De Toi, Love of my Life,

As paixões correndo soltas pelo peito. As desilusões, o fogo e o fastio.

Andastes daqui pra lá, de lá pra cá e, aos poucos, aprendestes a observar e a perceber cada coisa e todos.

Aprendestes algo. Aprendestes, mais que tudo, que eras, a cada momento, e sempre, ator e espectador de ti mesmo.

Ah! que imenso canastrão fostes, que grande atuação tivestes,

Em cada instante, de todos os instantes, em que interpretastes tua vida,

Mesmo quando a peça que te tocava, te parecesse, assim, tão pobre

E, por vezes, te incomodastes com o trabalho, a cidade, a mulher e o carro

E pensastes em trocá-los por outro trabalho, outra cidade, outra mulher e outro carro,

Com todo o cuidado, para que não mudasses ou perdesses nada do que tinhas antes,

Que se não o tivesses, de tudo sentirias tanta falta

E foi mais fácil trocar só de carro e ter, sem ter, uma mulher a mais!

UM ENGENHEIRO EM CAPÍTULOS



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