AMADO PARENTE
(um poema temporário)*
Desligaram a tomada,
Do meu ar condicionado,
O Brasil foi desligado.
Cadê o ventilador?
Suo por fora e por dentro,
me encharco de torpor
e me nasce uma esperança,
parida nesse calor:
Quem sabe o suor evapora,
mas, também, acachapado,
Fica aqui dentro da sala
Com medo do Sol lá de fora?
E não podendo sair,
Forma uma nuvem pequena,
Jeitosinha, bem fresquinha,
Grudada no teto da sala.
Aí é só assoprar,
Dançar a dança da chuva,
Quem sabe começa a chover;
Uma chuva bem mansinha,
Minha chuva particular
Que refresque minha cuca
Antes da cuca pifar,
Que pifar até pifou
Que nesse calor suarento,
Sufocado por fora e por dentro,
Já não enxergo e já não leio
E com muito, muito esforço
Só consigo imaginar,
Nosso caro Presidente,
E o seu amado Parente,
Nos quintos do último andar,
Num gesto de grande nobreza,
Olhando o espaço e saltar.
Mas não pensem: quero que morram,
Isso é claro, quero não,
Só lhes quero, quem sabe, o inferno,
Paletó, terno e gravata,
Solidários, agora e sempre,
Juntos, nesse braseiro,
Onde assa, pouco a pouco,
Um otário, brasileiro,
do qual tiraram a escada,
Deixando a tomada na mão!
* Para declamar, em tempos de escassez de energia elétrica, quando for feito um novo grupo gestor do racionamento, como aquele comandado, em 2001, por Pedro Parente (nada pessoal)