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GRACE KELLY
Numa tarde ensolarada,
Refletida nas vitrines
Passava em frente às lojas,
Aquela moça ocupada,
Tantas vezes atarefada,
Tantas vezes atrapalhada,
Por seus deveres de ofício.
Era engenheira, veja bem,
Que isso não cause espanto,
Pois apesar de tanto engenhar,
Meu Deus, que mulher e tanto!
Tinha talvez, quem sabe,
Um ar assim, meio esnobe,
Um ar de quem sabe que sabe,
O que tantas outras não sabem.
Sabia falar inglês
E também, pasmem vocês,
Muito mais de polonês!
Conhecia o mundo todo
E, nas notícias dos jornais,
Elaborações profundas,
Conclusões brilhantes,
E tiradas geniais.
Naquela tarde, porém,
Nada disso interessava,
É que nossa engenheira,
Apenas se perguntava,
Por quais motivos, talvez,
Quem sabe, de vez em vez,
Preferiria engenheira não ser;
Quem sabe, não ter tanta classe,
Pudesse ser o caminho,
Que lhe trouxesse o carinho,
Daquele, a quem tanto amasse.
Se achava Grace Kelly,
Mas, por certo, reprimido,
Sentia arder na pele,
Aquele desejo bandido:
Ser apenas a mulher,
Vulgar talvez, por que não,
Linda, bela, esfuziante,
Ardente como um vulcão.
É que no fundo, sabia,
Aquela engenheira ocupada,
Que, às vezes tem mais valia,
Aquela moça safada,
Que da vida pouco sabe,
Mas sabe da vida o bastante,
Pra atiçar, insinuante,
O desejo do amante,
E, por ele, desejada,
Ser coberta, a cada instante:
Flores, beijos, diamantes!
Engenheira, concordo contigo,
Marilyn Monroe, quem não quer,
Mas trago um desejo antigo,
Saber-te como mulher:
Por tudo que eu te conheço,
E o que não conheço, também,
Queria virar-te ao avesso,
Amar-te como ninguém,
Queria colher em teus olhos,
O brilho da tua paixão,
Queria achar na tua alma,
Um pouco da minha ilusão.
Por isso, minha engenheira,
Perdido em meu devaneio,
Aqui, sem eira nem beira,
Procuro um jeito, um meio,
De trazer-te junto a mim,
Grace Kelly, Marilyn Monroe,
E entre tantas que já vi,
Nesta tarde ensolarada,
Minha verdade escancarada,
Eu Juro, prefiro a ti!
Wilson Melo da Silva Filho